Entrevistas
•ENTREVISTA PARA O SITE DA ABRIL EDUCAÇÃO, 2011.
1) Em seu perfil no Flicker, você se apresenta como fotógrafo da natureza. Como e quando começou a se interessar por esse tema?
Desde criança - recordo de episódios com 5 ou 6 anos de idade, em que me deslumbrava com as cores das borboletas. Digo sempre que primeiro nasceu o interesse pela natureza e depois pela fotografia, essa como um instrumento para mostrar às pessoas a beleza que eu encontrava em minhas andanças. Devo ter herdado a vocação para a viagem, artes e fotografia de meu avô, um engenheiro que pintava capas de disco e fotografiava a natureza do interior do Paraná. Dos 15 aos 23 anos fui fotógrafo amador, enquanto estudante do colegial e depois na faculdade de Arquitetura, desde o início com predileção pelos temas da natureza.
2) Qual a sua rotina como fotógrafo da natureza (o fluxo de seu trabalho)? Dito de outro modo, o que é um dia típico na vida do fotógrafo da natureza Fabio Colombini?
Há duas fases distintas - a captação das imagens e o trabalho de agência. O trabalho propriamente de fotógrafo acontece durante as viagens, em que há uma dedicação total ao trabalho de campo, chova ou faça sol, pois sempre há oportunidades de fotografia. Essas viagens normalmente ocorrem em áreas de proteção ambiental, como Parques Nacionais, Estaduais ou reservas ecológicas particulares. São planejadas com antecedência para que sejam realizadas na época mais adequada de acordo com os ritmos da natureza. Busca-se imagens específicas e ao mesmo tempo abre-se para o inesperado. Por exemplo, nesse início de ano fui ao Espírito Santo tentar fotografar o nascimento da tartaruga-gigante ou tartaruga-de-couro. É uma espécie muito rara, pois somente 4 indivíduos vêm ao Brasil por ovos, especificamente em certas praias daquele estado. Ao mesmo tempo em que esperava pelo nascimento provável, enfocava a natureza local, a vegetação de restinga, flores de cactus, plantação de cacau, extração de petróleo, enfim, outros assuntos que se apresentavam como belos ou importantes. Na segunda fase, que é a mais longa, deve-se tratar as imagens obtidas, que é um processo de selecionar, editar corrigir defeitos, identificar, classificar, armazenar, e enviar para a formatação e indexação a fim de entrar no site de busca de imagens. Nesse processo sou auxiliado por outras pessoas, pois o volume de informações e imagens é grande. Então na fase em que não se fotografa, o estúdio do fotógrafo funciona como um escritório normal, com elaboração de orçamentos, envio de imagens, organização, contabilidade, planejamento, contratos, etc. Desde o início de minha carreira sempre tive a ajuda de minha esposa para manter a estrutura de agência de fotos funcionando, especialmente nas minhas ausências para produção de imagens.
3)Existe um tipo de equipamento especial para esse tipo de trabalho tão específico?
Há algumas lentes que são importantes, como as grandes tele-objetivas que conseguem aproximar os animais que estão longe, já que dificilmente é possível chegar perto de animais selvagens. Há também a lente macro, especializada para fotografar pequenos seres, como insetos, aranhas, anfíbios, flores. É necessário uma boa grande angular, para captar paisagens de grandes dimensões. Usam-se acessórios como tripé, monopé, flashes, difusores de luz, câmeras subaquáticas ou caixas para mergulho entre outros. Enfim, são muitos e pesados equipamentos (uma tele-objetiva pode pesar 7 kg) que o fotógrafo deve carregar em sua mochila e caminhar bastante para encontrar seus objetivos.
4)Muitas de suas fotos são usadas em livros didáticos. Como aconteceu essa aproximação? Que sensação lhe dá que suas fotos apareçam nesse tipo de publicação?
Começou em 1990, quando após publicar uma matéria sobre borboletas numa revista, a pesquisadora de imagens de uma editora me procurou, pois precisava exatamente da sequência de metamorfose e nascimento para um livro de Biologia. Fui então ao longo desses anos, aprendendo e entendendo quas as necessidades de imagens para livros didáticos, o que norteou frequentemente minha produção fotográfica. Hoje, jé tenho imagens publicadas em cerca de 3.000 títulos diferentes de didáticos, de todas as disciplinas. É uma sensação muito boa em saber que através dos livros didáticos minhas fotos se espalham pelo Brasil inteiro, e muitas vezes serão as únicas referências visuais que as crianças terão sobre a natureza. O fato do livro didático ser tão abrangente, democratiza o acesso à fotografia e ao conhecimento, o que me orgulha e ao mesmo tempo me obriga a fazer um trabalho competente e de informação precisa. Com grande alegria encontrei livros didáticos com fotos minhas em pequenas escolas de locais extremamente remotos do Amazonas.
5)Na sua opinião, quais as virtudes de um bom fotógrafo? Em outras palavras, o que faz dele um profissional acima da média?
Acredito que um conjunto de fatores que sai do dom passando pelo suor. Não basta ter talento, deve-se acrescentar responsabilidade, dedicação aos estudos, interesse nos assuntos que fotografa, constante atualização tecnológica, atendimento rápido ao cliente, organização da produção fotográfica, confiabilidade nas identificações das fotos, investimento no próprio trabalho, constante busca de novos mercados, humildade e ética na atuação profissional, atenção às exigências do mercado. Naturalmente o amor pelo que se faz é o fator que incentiva ao esforço de comprir tantas exigências.
6)Em quem você se inspirou no início de carreira? E hoje, em quem se inspira?
No início me inspirei muito no fotógrafo brasileiro Haroldo Palo Jr., que desenvolvia um trabalho para a Kodak, vivendo no Pantanal por quase um ano. Achei uma profissão fascinante, principalmente depois de ouvir uma palestra sua no cursinho onde estudava. Ao longo de todos esses anos, muitas fotos e fotógrafos me inspiraram, como Eliot Porter, Stephen Dalton, Frans Lanting. Com a internet, frequentemente encontro fotógrafos desconhecidos de diversas partes do mundo que desenvolvem trabalhos belíssimos, e toda imagem bela me inspira e estimula a fotografar.
7)Gostaria que você fizesse uma análise dessa
transição da fotografia analógica para a fotografia digital? O que melhorou e o que era melhor?
Na fase de transição ainda questionava um pouco, já que a qualidade do digital não alcançava a do analógico. Mas com o passar dos anos e aperfeiçoamento da tecnologia, praticamente esqueci o analógico. O processo digital é muito mais eficiente, ajudando a desenvolver a qualidade fotográfica já que proporciona resultados e análise imediata, grande produção de imagens sem aumento de custos, recursos de captação, manipulação e aperfeiçoamento. O fluxo de trabalho com as editoras tornou-se extremamente rápido e foi facilidado enormemente, pois não é necessário mais o deslocamento físico de cromos, evitando riscos de danos e perdas, além do tempo gasto no trânsito das grandes cidades. Por outro lado exige-se uma atuação permanente na frente de um não-saudável computador, e distanciou-se do contato com o cliente, já que tudo é feito on-line. Isso empobrece os relacionamentos humanos.
8)Qual a realidade do profissional fotógrafo hoje, no Brasil?
Acredito que ainda esteja sendo sentido os efeitos da revolução digital, pois o profissional de hoje não é o mesmo da era pré-digital. Muitos setores da fotografia perderam espaço, e o que antes era uma técnica só acessível a poucos, hoje tornou-se extremamente popular, em que até crianças conseguem produzir imagens boas. Isso exigiu um avanço e especialização dos profissionais para que mantivessem seu trabalho valorizado e requerido, dentro de uma avalanche de imagens vindas de toda parte. Por outro lado, tem se valorizado muito a fotografia autoral como expressão artística, e as galerias, arquitetos e mercado de decoração tem a consumido cada vez mais. Acredito que sempre haverá espaço para a criatividade e profissionalismo, não fossem assim, não teria incentivado minha filha a fazer Faculdade de Fotografia. O fotógrafo brasileiro é muito talentoso, e a carência de informação e formação tem gradualmente cedido espaço a boas publicações além de cursos técnicos e superiores.
9)Existe algum trabalho que o tenha gratificado mais do que os outros, ou algum que tenha gostado mais de fazer?
Fotografar a natureza é extremamente gratificante, pois ao mesmo tempo que pode trazer inúmeras frustrações em termos de fotos perdidas, condições, atmosféricas negativas, e até mesmo não encontrar o que se almeja fatografar, traz inúmeras surpress. Por mais que eu fotografe, sempre encontro animais diferentes, situações de luz inesperadas, pois eu não canso de olhar e me admirar com a natureza. Enfrentando color, frio, picadas de insetos, caminhadas difíceis, mochilas pesadas, tudo isso se dissolve frente à sensação gratificante de se estar na natureza e conseguir captar sua beleza.
10)Você conseguiu realizar o que idealizava ni início da carreira?
No início da carreira há uma série de dúvidas, até mesmo se iria conseguir sobreviver como fotógrafo, mais ainda como o específico fotógrafo de natureza. Então acho que nunca fiz planos tão audaciosos, e fui vivendo o momento, buscando pequenos objetivos, valorizando cada progresso, pedindo a condução de Deus pelo futuro insondável. Como se diz, muitas vezes é mais importante a viagem do que o luagar onde se quer chegar, e nessa viagem tenho procurado seuperar as constantes dificuldades e me alegrar com as frequentes realizações.
11)Quais são seus projetos futuros?
Ainda há muitos lugares que gostaria de conhecer como o Monte Roraima, as cavernas do Peruaçu, as savanas da África; há muitas fotos que gostaria de fazer como insetos em vôo, a harpia no ninho, o uirapuru; além de projetos em fine art e ensaios que conseguissem retratar a espiritualidade dos santos.
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ENTREVISTA AO FOTÓGRAFO ZÉ PAIVA, PARA O FLORIPA NA FOTO, 2010.
Quando começou teu interesse pela natureza, foi ainda quando criança? E a fotografia, em especial a de natureza, como entrou na tua vida?
Sim, começou bem cedo, e me lembro de aos 5 anos observar intrigado e maravilhado uma asa de borboleta que caiu no quintal de casa. A fotografia entrou como um meio de registrar e compartilhar as cenas que via numa região vizinha a Atibaia-SP, onde meus pais tinham uma casa. Praticamente todo fim de semana íamos para lá, e minha diversão de adolescente era procurar e fotografar os insetos.
Como foi a mudança da arquitetura e da publicidade para a fotografia?
Apesar do amor à fotografia de natureza, com 16 ou 17 anos não conseguia enxergar um futuro viável como fotógrafo profissional, então optei por uma formação mais tradicional, sendo a arquitetura um equilíbrio entre a arte e a técnica. Busquei também a publicidade pelo uso da criatividade e comunicação pela imagem. Mas durante a universidade fiz um curso paralelo autodidata, dedicando todo meu tempo livre ao estudo da fotografia e da biologia. Antes de me formar já estava fazendo meus primeiros trabalhos na área, vislumbrando a real possibilidade de ser fotógrafo.
Como voce viabiliza teu trabalho de natureza? Você faz trabalhos comerciais também?
Hoje, depois de 23 anos de profissão, meu nome e trabalho estão bem consolidados no mercado, e tenho possibilidade de restringir minha atuação somente na fotografia de natureza. Mas nos primeiros anos de carreira, o esforço para abrir contatos e conquistar clientes foi muito árduo. Fiz trabalhos na área de agricultura e institucional, mas que foram importantes para poder investir em meus ensaios e produções particulares.
Qual a sua inspiração? Quais artistas te inspiram? Que obras te marcaram? Livros, fotos, pinturas, filmes... Enfim.
O fotógrafo de natureza Haroldo Palo Jr. foi minha inspiração inicial, por se tratar de um pioneiro da fotografia de natureza no Brasil - uma palestra sobre seu trabalho no Pantanal no cursinho que eu estudava foi fundamental para meu incentivo. Dentre as inúmeras obras que li, marcou-me muito o trabalho de Eliot Porter, que enfocava fragmentos da paisagem, grafismos, detalhes de solo. E também o de Stephen Dalton, com imagens de insetos voando capturadas com flashes de alta velocidade. Tenho também grande admiração pelas colagens de Matisse, pela arte de Volpi, Miró, do artista sacro Claudio Pastro, que certamente contribuem para a educação do olhar e da beleza.
Qual foi a maior roubada durante um trabalho fotográfico, quero dizer a situação mais complicada que você já enfrentou?
Já vivi várias situações complicadas como encalhar no Pantanal, me perder na Caatinga, ficar sem água no Raso da Catarina, ser coberto por centenas de picadas de carrapatos, cair em cachoeira, provocar tendinite por excesso de esforço, quebrar motor de barco em alto e agitado mar. Mas houve uma situação em que meu carro literalmente afundou na areia mole da desértica praia de Cassino-RS, afastado 15 km da cidade, sozinho, anoitecendo, e com a maré subindo. Felizmente apareceram 12 pescadores com um caminhão para me ajudar.
Como você resumiria teu fluxo de trabalho, teu processo, desde o planejamento até a criação?
Desde o início de minha carreira conto com a sociedade de minha esposa, o que me permite viajar e concentrar mais nos assuntos fotográficos, enquanto o estúdio continua atendendo aos clientes. Apesar disso, a maior parte do trabalho é em frente a um computador, como qualquer escritório, dedicando ao tratamento de imagens, identificação, organização, contratos, propostas, etc. Quando não estou atendendo a pedidos específicos de produção fotográfica, planejo expedições a lugares e santuários ecológicos em que nunca estive, que desejo aprofundar um trabalho pessoal, ou que têm sido mais procurado por meus clientes. Viajo com determinados objetivos e pautas, mas na fotografia de natureza é fundamental estar aberto e preparado para a boa surpresa ou decepção.
O que te motiva no teu trabalho pessoal?
Motiva pensar que temos uma natureza exuberante em nosso país e que pouco se sabe ainda sobre ela. Motiva sempre estar descobrindo coisas novas para fotografar e jeitos novos de fotografar coisas velhas. Motiva sempre me surpreender e encantar pela natureza e conseguir enxergar Deus através dela. Motiva saber que faço um trabalho útil para a sociedade, ajudando na educação, conhecimento científico e preservação ambiental.
Qual foi o trabalho ou a imagem que você produziu que mais te marcou?
Creio que foi a do fenômeno da bioluminescência no Parque Nacional das Emas. É um acontecimento raro, que acontece numa época específica do ano. Larvas de vagalume habitam cavidades nas paredes dos cupinzeiros, e como há uma enorme quantidade deles nos campos do parque, a visão é incrível - milhares de pequenas e tênues luzes na paisagem noturna. Como não havia ainda a câmera digital, o trabalho exigiu que ficasse algumas noites produzindo imagens de longa exposição, no silêncio e solidão do cerrado, sem a certeza de que o trabalho estava dando certo. Cada vez que olho os cromos produzidos, lembro-me exatamente das sensações vividas.
Qual o lugar no Brasil que você considera o mais belo ou o mais sagrado? Você tem um lugar secreto? E no mundo?
Tenho dedicado minha atuação especialmente no Brasil, uma vez que temos a maior biodiversidade do mundo. Há lugares que considero preciosos, como a Chapada Diamantina nos seus rios, pedras, cavernas, cachoeiras, plantas; ou Fernando de Noronha nas suas praias, aves, tons de azuis, tartarugas, peixes. Mas a Mata Atlântica é o lugar especial para mim, na caótica e harmoniosa combinação de verdes, formas, folhas, águas, insetos, fungos. É lá que encontro o Sagrado, a Beleza, o lugar secreto e discreto que não canso de admirar.
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ENTREVISTA À REVISTA CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS, 2010.
No livro Fotografia da natureza, você conta um pouco da sua experiência para incentivar novos talentos nessa área. Acho que, entre os nossos leitores, podemos ter não novos talentos, mas novíssimos, já que falamos para crianças com idade entre 7 e 12 anos. Assim sendo, queria começar perguntando que animais você acha que uma criança nessa faixa etária poderia buscar fotografar? Por quê?
Hoje em dia com as câmeras digitais ficou bem mais fácil fotografar. As máquinas são pequenas mas tem lentes poderosas, pegando coisas que estão longe e até as muito pequenas. Então dá para começar fotografando perto de casa mesmo, no jardim, no parque, nas praças, nos zoológicos. Dá para montar em casa um aquário ou um terrário e acompanhar a vida deles. Os insetos estão por toda parte, e sempre surpreendem pela beleza e curiosidade. Quando for viajar, peça a seus pais para fazer turismo ecológico, no Pantanal, na Amazônia, em Bonito, nas cavernas do Petar - no Brasil não falta opção para fotografar natureza. Em alguns parques, fazendas e hotéis há animais selvagens semi-domesticados, que chegam muito perto das pessoas e se deixam fotografar, como quatis, esquilos, pássaros, araras, jacarés, macacos.
A que deve estar atenta uma criança que queira fotografar um animal? Não só em termos de segurança, mas também em detalhes que fazem a diferença entre uma boa foto e uma ruim?
Normalmente não é fácil chegar perto dos animais selvagens, pois a maioria tem medo do homem e foge. Então precisa de muita persistência para tentar chegar cada vez mais perto, tirar muitas fotos para que pelo menos uma saia boa, observar se o fundo da foto está bonito, esperar o animal fazer uma bela pose, pegar ele comendo ou fazendo alguma atividade, ver se a luz que o ilumina é bonita. Sobre a beleza da luz, normalmente as piores horas para se fotografar são depois das 10 da manhã e até as 15 horas, principalmente se o sol estiver brilhando. Em dias nublados a luz suave que vem do céu também é muito boa para fotografar. Tente evitar ao máximo usar o flash, pois tudo fica mais bonito iluminado com a luz natural. É preciso sempre tomar cuidado por onde pisa, não por a mão em buracos, ninhos, folhas secas no chão, pois são lugares que cobras, aranhas e escorpiões se escondem. Passar sempre protetor solar, usar tenis confortável, boné, repelente, levar água, capa de chuva, não se aproximar da beira de barrancos, muitíssimo cuidado com pedras molhadas em rios e cachoeiras.
O fotógrafo de natureza precisa ter um comportamento específico na hora do seu trabalho? Como ele deve se comportar se quiser obter boas fotos de animais?
Primeiro ele não pode ter preguiça - tem que acordar cedo, antes do sol nascer, e trabalhar até o fim do dia, às vezes à noite também. Tem que ter muita paciência, olhar tudo com atenção, fazer silêncio quando anda na mata, não assustar ou correr atrás dos animais, se mover muuuuuito lentamente quando vê um animal, não pisar nas plantas. É bom sempre ter na mente um objetivo sobre o que se quer fotografar, estar atento aos sinais atmosféricos (chuva, sol, vento, nevoeiro), evitar sair das trilhas e conhecer bem o lugar para não se perder. A natureza nos mostra cenas lindíssimas, mas a gente precisa ter sensibilidade para procurar, esperar, admirar. Ela é a criação de Deus, então merece respeito, carinho, cuidado.
Você acha que um fotógrafo de natureza precisa também conhecer os hábitos e as características das espécies que deseja fotografar? Em que isso pode ser útil?
Super importante isso. O fotógrafo de natureza passa mais tempo lendo sobre a natureza e a vida dos animais do que sobre fotografia. Sempre gostei de ir a bibliotecas e livrarias para ler livros sobre animais. Os insetos ficam escondidos e disfarçados embaixo das folhas - eu preciso saber disso para encontrá-los. As aves fazem ninhos na primavera - não adianta procurar no outono. Os tamanduás tem um olfato muito bom - só consigo chegar perto dele se andar contra o vento. Há macacos muito simpáticos mas que podem morder - eu tenho que tomar cuidado. Assim é muito útil assistir a esses documentários de TV sobre vida animal, ler livros, enciclopédias, e aprender observando a natureza. Então vai dar para saber se um animal é raro ou não, se a cobra é venenosa, o nome do inseto, de que ave vem aquele canto, onde eu encontro morcegos, e assim por diante. Eu já tenho fotos publicadas em mais de 2.600 livros, a maioria didáticos, que além de ensinar questões científicas às crianças, criam um sentimento ecológico, uma motivação para amar e conservar a natureza. Publiquei também muitas fotos na revista Ciência Hoje das Crianças, que sempre abre um espaço muito legal para a natureza.
Você tem interesse pela fotografia desde que idade? Na sua infância ela já estava presente?
Meu avô morava no Paraná e gostava de fotografar as paisagens de lá. Isso a mais de 70 anos atrás. Esse gosto que ele tinha pela fotografia e pela natureza passou para mim. Comecei a tirar fotos quando eu tinha 11 anos de idade, numa viagem com a família. Só que naquela época era bem mais difícil fotografar pois não existia a máquina digital, em que a gente vê na hora o resultado. Tinha que esperar muitos dias para ver as fotos, e se saia escuro, tremido ou fora de foco não tinha mais jeito. Depois comecei a conhecer melhor a natureza, me fascinar e apontar minha câmera para ela, isso com uns 13 anos de idade. Mas precisou de muita luta, esforço e determinação para me tornar um fotógrafo profissional. Fico contente que minha filha vai prestar vestibular para uma Faculdade de Fotografia e ter uma formação melhor que a minha. Fico também feliz pelo Vitor, um menino de 11 anos, que foi ao lançamento de meu livro para ganhar um autógrafo pois quer ser fotógrafo de natureza. Acho que com tanta novidade tecnológica e informação, dá para começar a fotografar muito mais cedo hoje em dia, e os novíssimos talentos de hoje serão grandes fotógrafos amanhã.
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ENTREVISTA PARA A REVISTA PUBLISH, 2008.
Como começou na profissão de fotógrafo? Qual foi a influência da sua família?
A fotografia era para mim um hobby, desde minha adolescência. Na Faculdade de Arquitetura dedicava muito tempo ao estudo da fotografia, tendo feito os primeiros trabalhos e publicado as primeiras imagens nesta época. Trabalhei também como editor de imagens numa agência de fotos. Tudo isso junto foi me abrindo uma perspectiva de trabalhar na área que se concretizou após o término da Faculdade. Meus pais nunca se opuseram aos meus projetos e me apoiaram muito financeiramente. E ao longo da carreira, a assistência, suporte e direcionamento da Edna, minha esposa, que há quase 20 anos trabalha comigo.
Como escolheu a fotografia de natureza? Você sempre teve contato com animais?
Na verdade eu não escolhi a fotografia de natureza, foi a natureza que escolheu a fotografia. Ela me encantou e conquistou, e a fotografia veio como o meio de registrá-la e divulgá-la. Esse amor veio da infância para a adolescência, no contato e observação em viagens.
Como chegou à macrofotografia?
Dentro da natureza, me atraiam principalmente os pequenos seres. Ficava intrigado e maravilhado com os movimentos das formigas, as cores das borboletas, as habilidades das libélulas, os disfarces das mariposas. Para mim era algo inexplicável, divino, tinha que ser mostrado. Aí entra a macrofotografia com sua capacidade de entrar nesse mundo micro.
O que pensa da fotografia digital?
Tem um lado maravilhoso pois popularizou tremendamente a fotografia, tornando possível a produção de imagens que antes eram de acesso exclusivo dos fotógrafos. Para o fotógrafo também foi muito positivo, pois agiliza e facilita em muito a obtenção de certas imagens e dá uma segurança de trabalho corretamente realizado. Porém, essa facilidade força o profissional a se especializar mais, a aprimorar técnica e artisticamente seu trabalho.
Como foi a sua transição do analógico para o digital? Você ainda utiliza filmes?
No começo, a qualidade da captação de cores e a resolução deixavam um pouco a desejar, o que me levava a produzir com digital e filme ao mesmo tempo. Já de dois anos para cá, só tenho produzido em digital, tendo feito livros e calendários de parede com qualidade impecável. Para a fotografia de natureza, em que precisamos fazer longas viagens, o digital tem sido um grande aliado.
Em quais profissionais se inspirou no início da carreira?
No Brasil, em Haroldo Palo Jr., um dos precursores da fotografia de vida selvagem. No exterior, em Stephen Dalton com seus insetos voadores, e em Eliot Porter com seus detalhes de solos caóticos.
Quem inspira os seus trabalhos hoje?
Deus e sua infinita beleza.
Qual foi o trabalho mais difícil que realizou?
Fotografar morcegos voando na Amazônia. Tivemos que ficar três noites seguidas esperando por várias horas na mata, realizando muitas tentativas para bem poucos resultados positivos
Quantos livros de sua autoria já foram publicados? Existe algum novo projeto em
andamento?
Há fotos minhas em mais de 1.800 livros. Destaco o livro autoral mais recente, “Natureza Brasileira em Detalhe” que traz uma visão bem diferenciada da natureza através da macrofotografia, com texto exuberante de Evaristo Miranda. Há vários projetos em andamento, dentro e fora da área de natureza, mas que ainda não podem ser revelados.
Em um artigo, você afirma que não é só um bom equipamento que faz uma grande foto, mas quem está por trás da máquina. O que o profissional deve fazer para se tornar um grande fotógrafo?
Penso que não existe uma fórmula. Cada pessoa traça um caminho particular, que contempla todas suas qualidades, defeitos, dons, possibilidades. Pode-se tornar um grande e desconhecido fotógrafo amador, ou um vazio e famoso fotógrafo profissional. Acho importante sim, mirar-se nos grandes profissionais e nos grandes artistas, buscar sempre melhorar, mas principalmente fazer uma viagem feliz, sem a preocupação com onde se vai chegar, pois tudo é fugaz.
Você possui um acervo de fotos na Internet. O que representa, hoje, a Internet para o profissional?
A internet facilita em muito o trânsito de imagens no dia a dia, evitando a necessidade do transporte físico das imagens, além de abrir a possibilidade de atingir o mundo todo. Nosso banco de imagens na internet conta hoje com mais de 22.000 fotos, e é a principal ferramenta de relacionamento com nossos clientes. Por outro lado, a revolução digital trouxe uma grande exigência por velocidade e eficiência. É preciso tomar cuidado para que ela seja nossa aliada e não nos engula e desvie do caminho certo.